O Concílio

Daros balança a cabeça levemente para voltar ao normal assim que Seráphine se dirige a ele. Tinha que responder devidamente, afinal era um dourado.

Seu melhor sorriso apareceu em seu rosto. Pensou um pouco para responder, questão de poucos segundos. - Meu nome é Daros. E você, como se chama? - Perguntou o geminiano. Não era tão educado, nunca teve tanto contato social então, aprendeu pouco a como tratar bem aos outros, mas talvez esse pouco fosse o suficiente.

Vi os olhos arregalados do geminiano a fitarem-me, e por algum tempo pensei que ele fosse ficar paralisado, sem cumprimentar a bela moça a quem eu o apresentei. Mas logo vi que conversavam e esperei, ardentemente, que o geminiano ignorasse a beleza lasciva de Séraphine...

“Sua Senhora, além de digna e virtuosa, é particularmente afável para com seus servos.”

Sorri – corando um pouco, é verdade – ao ouvir as palavras da Sacerdotisa. Era realmente uma mulher encantadora, e parecia querer agradar-me a todo momento... Mas nada disse em resposta a seu comentário.

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Depois de esperar o cumprimento entre Kathleen e Séraphine, dirigi-me novamente à sacerdotisa, com um rosto impassível, apesar do que me afligia: estava nervosa, pois teria de levar a sacerdotisa a Rögnvaldr. As lembranças, soltas, atormentavam-me, deixavam-me confusa... Além do mais, só o fato de ele estar ali já me deixava exaltada.

– Querida Séraphine... Dirijamo-nos ao senhor Rögnvaldr, sim? – disse, mostrando-lhe o homem sentado à mesa – Serás para ele uma grata visão, assim como és para mim. – e sorri, disfarçando as preocupações.

– E vocês todos também, por favor. Tomem seus lugares; já nos demoramos demais. – completei, dirigindo-me à dama do Submundo e aos santos que ali estavam. A reunião estava por demais atrasada.

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Passos lentos, a fim de que todos me seguissem de perto. Ao verem-me ganhando os espaços do pavilhão, qualquer um diria que parecia uma pluma a flutuar, tão leve...

Mas o coração, ah, coração... se soubessem como pesava-me dentro do meu peito!

Quando eu olhei para ele, a revelar minhas dúvidas, ele apenas me sorriu. E aquele sorriso me rasgou a alma... Rögnvaldr me desvendava a cada olhar, a cada gesto, e eu nada sabia dele. E quanto mais me aproximava daquela mesa, mas eu tinha a impressão de que ele sentia o meu medo de ser descoberta, mas não descobrir...

– Odin... – chamei-o, com uma voz quase sussurrada. – Quero apresentar-lhe a bela sacerdotisa de Ófis, Séraphine.

Ao ser apresentado à sacerdotisa de Ófis, Rögnvaldr pôs-se de pé e a saudou. Mais que isso, o homem rústico, gelado e silencioso puxou uma cadeira próxima a ele, para acomodá-la. Com seus olhos, percorria Séraphine, como se lendo um mapa.

Após acomodar a sacerdotisa, Rögnvaldr voltou a se sentar, observando os guerreiros, a deusa, as representantes diretas de outros deuses... Finalmente o local parecia deixar de ser um grande encontro e ganhava ares de Concílio...

"Por favor, chame-me de Rögnvaldr", disse ele a Atena, pedindo para que seja chamado por seu nome humano. Pois não convém ser chamado de Odin num lugar que não comanda e domina...

Observei, calada, a delicadeza de Rögnvaldr, ao puxar a cadeira para a sacerdotisa. Era um homem interessante: apesar de enorme e meio desajeitado, ainda assim tinha gestos sutis...

“Por favor, chame-me de Rögnvaldr"

– Como queira, meu caro. – disse simplesmente, fazendo uma mesura suave. Tinha no rosto a expressão serena, apesar de ainda estar nervosa pela aproximação com o Pai de Todos.

Logo percebi a presença de alguém recém chegado ao Concílio. Tristan, o santo de Sagitário, aproximava-se com sua armadura reluzente, ofuscando-me os olhos, como o sol num dia quente.

"O cavaleiro de sagitário pede perdão pelo atraso, minha senhora. Minha atenção era necessária em outros locais, mas dirigi-me para cá assim que foi possível."

– Não há problema. – disse a sorrir – Por favor, levante-se. Chegaste bem a tempo. *piscadela*

Orientei o guerreiro da 9ª Casa para que tomasse um lugar à mesa. E eu mesma tomei um lugar, perto de Odin e da sacerdotisa de Ófis. Entretanto, enquanto a maioria bebia e comia com gosto, eu não tinha fome nem sede. Tinha vontade de fugir dali, amedrontada que estava. O que é que diria? Perguntaria diretamente aos representantes dos deuses de que lado estavam? Seria muita grosseria... O que faria, então?

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Quando, enfim, julguei estarem todos saciados, levantei-me.

– Quando eu era menina, ouvi muitas histórias sobre uma deusa que tinha a missão de manter certa ordem sobre as coisas... – comecei, com a voz um tanto trêmula.

– Não demorou muito tempo para que eu soubesse que carregava essa deusa dentro de mim. Entretanto, – suspiro – apesar de algum tempo ter passado desde o dia em que descobri ser Athena, esse tempo não foi suficiente para que eu despertasse todas as lembranças de um passado não tão longínquo. Ordem, caos, tudo se confunde...

– E hoje, tendo tão ilustres convidados a minha volta, humildemente confesso que eu não sei o que pensar a respeito dessa nova batalha. Tenho a meu lado guerreiros leais, é claro, mas quanto aos deuses... – breve sorriso – Bom, alguns deles são conhecidos por não terem tanto apreço assim por Athena, – e olhei momentaneamente para a representante de Hades – embora reconheça que na última guerra tenham sido bons aliados.

– Foi justamente por isto que convoquei este Concílio. Eu preciso, e digo isto abertamente, sabendo dos riscos que corro, saber a posição de vocês sobre esta nova contenda. – disse, fitando Séraphine, Kathleen e Rögnvaldr – Eu tenho de saber com quem posso contar. Ou não... – terminei, enfim.

O geminiano observou Ágatha e Seráphine partirem. A cadeira oferecida à sacerdotisa, o cavaleiro de Sagitário ajoelhando-se, tudo que envolvia a Deusa que tanto amava. Um sentimento de amor mais profundo, estranho para ele, não compreendia aquilo. Tal amor não compreendido que o arrasava por dentro, que o fizera ter vontade a cada momento de estar ao lado dela.

Talvez parecesse não educado, mas não se virou para Kathleen, apenas ficou a olhar Ágatha, a todo o momento. Essa paralisação foi quebrada quando a Deusa se levantou. Eram palavras tão profundas, tão tocantes. Um sorriso surgiu em seu rosto.

- “Bom trabalho...” – Disse em seus pensamentos, sorridente.

Rögnvaldr ouve tudo com atenção e cuidado. Atena queria saber com quem poderia contar ou não contar. Apesar de ter sido vaga e não ter mencionado acerca de quê ela poderia ou não contar com as pessoas, o nórdico imaginava do que se tratava: provavelmente Atena via uma guerra formando-se no horizonte. O próprio Rögnvaldr sabia que, um dia, teria de lidar com Loki e os outros deuses que o traíram.

Rögnvaldr levanta-se de sua cadeira para falar. Sua voz é firme e límpida. "Qualquer um que faça um juramento de paz e lealdade será aceito como um irmão em Midgard. Estes são os que podem contar conosco...", respondeu. E logo completou:

"Todavia, devo lembrar-lhe, Atena, que Midgard foi massacrada na guerra. Eu vi crianças comendo pedras porque sentiam fome. Neste sentido, a senhorita não pode contar conosco. Temos problemas demais para doar nossas forças a quem quer que seja...", disse, recordando-se de coisas que viu. Por um instante, seu coração tremeu ante a dor de seus súditos... Se pudesse, Rögnvaldr descreveria mais, mas preferiu não fazê-lo, para manter o controle de seu tom de voz neutro e límpido, e manter suas verdadeiras intenções plenamente ocultas.

Enquanto volta a se sentar, Rögnvaldr completa a sua fala: "Se me permitir, Atena, eu retorno a pergunta: podemos contar com você? Quais são as suas intenções e desejos?". Ao terminar, voltou a pousar sobre o lugar onde se sentava e fez silêncio, aguardando a manifestação dos demais.

Permaneci de pé enquanto Rögnvaldr falou, pensando bem no que lhe responderia. Não demorou muito para que também a representante de Ártemis se levantasse e, com palavras doces, dissesse com sinceridade o que se passava em seu coração e no de sua Senhora.

Ouvi os dois com extrema atenção. Depois de um breve suspirar, tomei coragem para voltar às falas, e assim lhes disse, respondendo primeiro a Rögnvaldr.

– Meu caro... – disse, procurando os olhos azuis do deus, para expressar a verdade de minhas intenções – Eu não ousaria pedir o que não posso oferecer... Também o Santuário encontra-se em situação lastimável e, sinceramente, acredito que só esteja de pé pelo trabalho dos santos... – e por um instante voltei o olhar para os trigêmeos, sempre tão dispostos a pôr as colunas do templo de pé.

– Igualmente Rodorio está destruída; à noite, posso ouvir os lamentos dos que perderam tudo, a suplicarem que eu os ajude. Pobres... mal sabem que estou de pés e mãos atados! E ainda pior do que isso é ter os ouvidos cheios dos impropérios daqueles que pensam que a deusa os abandonou...

E meus olhos, sempre tão verdes, cintilaram acinzentados para o Pai de Todos. Também eu, como os moradores dos arredores do Santuário, sentia o peso da guerra nas costas...

– Mas respondendo a sua pergunta, Rögnvaldr... minhas intenções são bastante simples: acordar com vocês que não voltarão seus exércitos contra nós. Esteja claro que a promessa é mútua, e uma vez que assim aceitem, também eu me comprometo a fazer o mesmo. Posso ser jovem, mas não sou tola para quebrar um pacto feito entre divindades...

- Entretanto... – agora uma pausa mais longa, pois procurava as palavras certas – se possível for que nossos guerreiros se unam para acabar de uma vez com a ameaça de destruição da Terra... isso sim seria de grande monta. Sei que esta idéia pode desagradar a muitos, mas tempos difíceis virão, e eu não me darei o luxo de ser orgulhosa a ponto de pôr a vida de tantas pessoas em risco... – disse, francamente.

– E quanto a ti, Séraphine de Ófis... Falas de acordo com a verdade. – e fitei-a, com semblante sereno – Sei que Ártemis e eu não temos os mesmos propósitos, e seria ingenuidade minha desejar que os tivéssemos iguais. Somos muito diferentes... que cada um aja de acordo com sua natureza.

– Porém, espero realmente que possamos, sim, conviver em paz. Pelo menos, como bem disseste, enquanto nossos caminhos forem semelhantes. É de meu interesse e de meus santos que o mundo seja protegido da desgraça que, o sei bem, está perto... Portanto, não é necessário que entremos em contenda; meus cavaleiros jamais desejariam a aniquilação da Terra. Ao menos não os que são realmente leais a mim... – disse, com sinceridade.

Enfim, desejava saber se aceitariam o que propunha. Observei a todos naquela mesa, depois concentrando-me no deus e nas duas representantes. Fitei-os com um olhar meigo demais para quem tratava de assuntos com pessoas que representaram inimigos em um passado não tão distante.

– E então, o que me dizem?

Rögnvaldr ouve Ágatha com calma, ponderando suas palavras. Lentamente ia construindo a certeza de que as intenções de Atena são boas. Aos poucos, suas lembranças da antiga Atena refletiam-se em Ágatha.

Todavia, viu coisas em suas falas que desgostou. O desejo de 'proteger o mundo da desgraça' soou como tentar beber a água do oceano para saciar a sede: algo impossível. Será que Atena não sabe que é impossível evitar tal evento, que acontecerá assim que uma nova guerra começar? Além do mais, que 'mundo' é esse? Para Rögnvaldr, 'mundo' resume-se a Asgard; ele não conhece outro mundo possível. Jamais diria que se preocupa com a segurança do mundo, sob risco de ser petulante e de intervir em um espaço que não é seu. Qual seria o mundo de Atena? Certamente, a Grécia e o Santuário. Como poderia ela querer a proteção de um mundo do qual não faz parte? 'Mundo' é apenas uma abstração que reúne coisas diametralmente diferentes... E se Atena tivesse de escolher entre a Grécia e outro lugar? Como seria ela capaz de manter a promessa que promete, caso a manutenção dela signifique a destruição de sua terra?

Desde o princípio, ao ver Atena, o nórdico ficara com a impressão de se tratar de uma bela pessoa - em todos os sentidos -, mas muito frágil. O único modo de ter certeza se estava equivocao ou não é questionando-a. Mas Rögnvaldr temeu estar correto e temeu constranger a deusa ali, além de despertar a fúria dos outros. Por isso, conteve o desejo de questionar e mediu as palavras. Talvez fosse melhor questioná-la noutro instante, com menos pessoas ao redor, com menos aparências a manter. Ao notar que a sacerdotisa de Ófis deu-lhe a preferência, Rögnvaldr manifestou-se:

"Esta é uma pergunta que não pode ser respondida instantaneamente. Se me permitir, gostaria de pensar a respeito com mais vagar", respondeu. E completou: "Por enquanto, esta é minha resposta: contará conosco qualquer um que fizer, em Midgard, um juramento de paz e irmandade". Ele permaneceu sentado, concedendo a palavra a qualquer outro que queira dizer.

Agradeci, num leve aceno com a cabeça, a sacerdotisa de Ófis. Deu-me alegria imensa saber que, pelo menos com ela, teria uma relação razoavelmente amigável. Entretanto... Odin era, ainda, um mistério a ser desvendado.

– Tome o tempo que julgar necessário. – disse, e dignei a Rögnvaldr uma leve mesura. – E quanto ao juramento...

Ah, sim, sentia medo. Mas o temor não pode paralisar as ações...

– ... se é em Midgard que devo fazê-lo, para Midgard irei. Talvez eu não esteja sendo prudente... Mas é melhor arriscar do que esperar em conformidade. O que tiver de ser, será; agora ou mais adiante. – leve suspiro.

– É claro que, – continuei – não pertencendo ao que chamam "domínios de Athena", devo perdir-lhe permissão para ir a tal lugar, ou então esperar que um convite seja feito...

Disse, tomada de uma coragem que não era a minha. Um sentimento estranho enchia-me o peito; tive uma vontade de provar àquele homem que não estava para brincadeiras ou rodeios. Ao mesmo tempo, fiquei a pensar o que realmente Odin desejava com aquilo tudo, o que ele esperava de Athena...

Fui arrancada de meus pensamentos quando da chegada de uma jovem. Era-me particularmente interessante porque, ao contrário da gélida Kathleen ou da lasciva Séraphine, aquela moça era carregava uma aura... iluminada.

"Com licença, senhores. Atrapalho chegando com todos já reunidos?"

– De forma alguma. – disse, num sorriso tímido para a bela. – Eu lhe devo desculpas por ter começado sem sua presença... – e caminhei, devagar, na direção da jovem – Perdoe-me, não pudemos esperar; estávamos ansiosos... És a representante de Apolo, não?

Rögnvaldr ouve tudo com cuidado e atenção. Ao ouvir ela dizer que talvez não estivesse sendo prudente, o nórdico quis sorrir e dizer à deusa que ela não tinha porque temer ser imprudente. Imprudência seria não lutar por um acordo de não-agressão. Mas Rögnvaldr permaneceu neutro e gélido, sem oferecer seguranças ou pontos de apoio. Limitou-se a dizer: "Se for, garanto que será bem recebida"

Com a chegada de Kitana, Rögnvaldr a observou e também constatou que não possui muitas lembranças de Apolo. Ele a observou por uns instantes e tentou imaginar o que é ser uma representante de Apolo.

Após ter respondido ao chamado e à pergunta de Atena, Rögnvaldr sentiu que sua presença já não era mais necessária ali. E decidiu se retirar, pensando que sua ausência deixaria as pessoas mais a vontade. Ficar mais que o necessário estava fora de opção, pois seu povo, mais do que nunca, precisa dele. E nunca se sabe quando Loki pode decidir mostrar suas presas. Precisava retornar à Midgard tão cedo quanto possível. Odin ergueu-se de sua cadeira e disse: "Minha presença já não é mais necessária aqui. Então... Senhoras... Senhores... Este Rögnvaldr agradece o convite e se retira"

E retirou-se, após recolocar a cadeira no seu lugar e se despedir das pessoas com um breve aceno com a cabeça.