Teste - Anjo de Telus

Os pés descalços sentiam a temperatura um tantinho elevada da areia, e Blake mexia os dedinhos, divertindo-se. Olhou para cima, para o céu infinito; o azul-royal o encarava de volta, límpido, sem manchas brancas. O sol brilhava intenso, no ponto mais alto de sua trajetória, sorrindo-lhe, aquecendo sua pele branca - o tom pálido de quem nunca tirou uma semana para aproveitar o calor da praia, de quem sempre viveu nas ruas, nos bares, nas partes obscuras do mundo.


Mas agora era diferente. Agora ele tinha seu próprio Sol queimando forte dentro de si, preenchendo seu peito com calor.

O mar quebrava à sua frente - as ondas iam e viam, calmas, serenas, sem pressa. A brisa soprava e bagunçava seu cabelo um pouco; ele passava a mão pelas madeixas loiras, despreocupado, os olhos roxo-acizentados fitando o nada.

Há muito não sentia essa paz interior. Em verdade, desde os seus dez anos. Agora, finalmente, ele podia se dar ao luxo de gozar dos prazeres naturais da vida, como a praia em que se encontrava. E aquilo parecia preencher-lhe os sentidos, o coração...

E esse canto?

Ele olha em volta, à procura da origem; dá passos incertos pela areia, sem saber a direção da voz.

Seria Apolo mostrando-se mais uma vez? Seria uma sacerdotisa? Uma sereia?

Seria sua imaginação, já doentia o suficiente?

.

Ao menos a linda melodia não era fruto de sua mente. O rapaz estava ali, à sua frente. Alto, bonito, cabelos levemente despenteados pela brisa que vinha do mar. Seus próprios não estavam totalmente arrumados - Blake passa a mão por eles novamente, bagunçando-os ainda mais. Os olhos de cor exótica observam o outro, absorvem os detalhes, examinam sua postura, seus trejeitos, além de verificar sutilmente seus sentimentos. Não que pudesse lê-los completamente, claro. Duvidava que fosse capaz de fazer isso mesmo depois de tornar-se portador oficial de sua armadura. Ainda assim, podia ver uma coisa ou outra... É quase como se fosse sinestesia. A aura das pessoas tem uma cor fixa, que varia de pessoa para pessoa - não existem duas auras iguais nesse mundo -, manchada de outras cores, que representam os sentimentos. Blake via a aura e sabia que havia manchas ali, mas, para seus olhos não capacitados, tudo tinha a mesma cor. Tudo o que o loiro podia fazer era distinguir manchas umas das outras. Tarefa árdua, verdade, entretanto assim podia pelo menos saber se a pessoa estava alterada de algum modo.


-De fato, não vi por aqui as marcas da guerra; achei interessante como este pequeno pedacinho de paraíso manteve-se intacto, e acabei me perdendo em pensamentos... Blake Colle Spars a seu dispor, my lord.


Reverência profunda; sorri para o rapaz, amigável. Seria coincidência encontrá-lo em lugar tal remoto? Talvez seu deus estivesse pondo algo em seu caminho... O outro não parecia assustado, amedrontado, nem nada do tipo. Queria saber mais, mas tudo o que conseguia distinguir era o medo, e de um modo bem singelo e resumido; por muitas vezes se confundira e acabara em confusão. Bem, não importava. Seus instintos sempre falaram mais alto de qualquer maneira...

-E o seu nome, meu belo cantor? Poderia ter a honra de saber?

-Atreu, aquele que nada teme? Interessante, deveras interessante.

Blake ri com o jovem, apertando forte os punhos disfarçadamente. Aquela linda melodia ainda ecoava em sua cabeça, inebriante, incessante. Queria muito poder ouvi-la novamente. Queria ter o rapaz em seus braços, assoviando em seu ouvido, cantarolando apenas para ele e ninguém mais. Queria tocá-lo, senti-lo, degustá-lo, e quem sabe assim conheceria mais a música pela qual se apaixonara tanto. Queria abraçar Atreu forte, sentir seu perfume, arrepiar-se ao tê-lo cantando a melodia tão próximo de si, queria ouvi-la de novo, e de novo, e de novo...

-Apolo me trouxe, da Inglaterra, sim, até aqui, my beautiful nightingale. Levou-me a encontrar esse pequeno e privado paraíso, com essa brisa refrescante vinda do mar, esse céu límpido, esse Sol... O Sol me trouxe, caro Atreu, e acredito que o tenha trazido também...

Aproxima-se devagar, não querendo afugentar o jovem, e passa as costas da mão por seu lindo rosto, acariciando-o de leve. Esforça-se ao máximo; se perdesse o controle, derrubaria Atreu ali mesmo, na areia, terminaria tudo rápido demais e iria embora com uma sensação estranha. Ele não queria matar - o que daria prazer imenso - após descarregar-se, e tampouco queria ir embora depressa.

Apolo brilhava dentro de si, confundindo seus sentimentos, antes tão claros.

E Blake estava plenamente feliz com isso.

-Para ser sincero, eu mesmo não entendo os motivos de meu Deus, mr. Nightingale. Até hoje não entendi o porquê de, entre todas as pessoas neste mundo tão vasto e diversificado, ter sido logo eu o escolhido para missão tão importante. O fato é que aqui estou, depois de tanto procurar; aqui estou, e aqui está você. Aqui estamos nós, neste pedaço perdido de paraíso, tendo o resto da eternidade para aproveitar este momento tão único e especial...

Era verdade - Blake nunca conseguira descobrir a razão de ter sido chamado para lutar em nome de Apolo. Talvez fosse sua devoção, forte o bastante para guiá-lo durante todos esses anos que vivera por conta própria; talvez fosse seu destino, traçado antes mesmo de seu nascimento. E, para falar a verdade, ele nunca se importara muito. Ao contrário de inúmeras pessoas que varavam noites à procura da resposta, ele simplesmente aceitava a situação e agradecia em oração. A caixa da armadura jazia ali perto, no mesmo local onde fora encontrada - ele não tivera coragem de tocá-la ainda. Após se ajoelhar e orar a Apolo, ele se virara e voltara a observar o mar, perdendo-se em pensamentos... O que nos leva de volta a Atreu.

-Venha, sente-se ao meu lado, mr. Nightingale - não se importa de ser chamado assim, certo? -, vamos contar histórias!

E ele se sentou ao lado da caixa, sem tocá-la, na esperança de que o jovem aceitasse seu convite. Afinal, não tinha nada a perder - sua felicidade estava completa desde que encontrara aquele precioso presente de Apolo, e nem o maior dos "não" poderia tirar-lhe tal alegria do peito.

-Nightingale significa "rouxinol", meu caro Atreu - vamos, repita comigo! Nightingale!

A última palavra é demorada, pausada, o sotaque bem pronunciado, facilitando para o jovem. Deveras sonora, de fato - o inglês, ainda que bem mais fácil do que muitas das inúmeras línguas deste mundo, é bonito a seu modo, e a pronúncia britância de Blake é ainda mais agradável aos ouvidos.

A mão gesticula avidamente, incentivando o outro a repetir, a aprender como se dizia - afinal, qual é a graça de elogiar alguém tão carinhosamente sem que esse alguém saiba o significado ou o modo correto de falar? Se pusesse, o aspirante ensinaria um dicionário inteiro, mas Atreu parecia ter outros planos; nem ao menos se sentar quis! O tom de voz sério confundiu Blake um pouco, mas nada que pudesse transparecer. O sorriso era constante em seu rosto, mesmo que tivesse de contar histórias para o mar. Com a mão no queixo, finge pensar antes de responder, a expressão tentando imitar confusão.

-Well, se eu orei perante ela, é porque sei o que significa, certo? Não me subestime! Andei muito por este mundo afora pesquisando sobre Apolo, seu credo, sua Ordem e seus cavaleiros, bem como sobre todos os outros deuses! Eu poderia contar-lhe várias histórias, mas ao que parece não quer me acompanhar... E, oh, eu apreciaria bastante se tirasse a mão da caixa, mr. Nightingale.

O tom de voz em nenhum momento muda, sempre divertido; apenas no final endurece um pouco, mas continua a não mostrar notas irritadas ou sarcásticas de algum modo. Blake estava apenas com um ciuminho bobo. Se ele não tocara na caixa, ninguém mais haveria de fazê-lo antes!

-Hmm... A Alva, a armadura de Telus que representa o carangueijo, bem como o signo solar de Câncer, me significa liberdade, caro Atreu. Pois agora sinto-me livre para servir meu Deus, sem cobranças por partes dos fantasmas do passado, sem pesadelos, sem sobras; a luz agora me é plena, e meu futuro se estende diante de meus olhos como se iluminado pelo próprio Delfínio. Meu destino é, sempre foi e sempre será servir Apolo. Por isso pedi para que não tocasse na urna. É um tanto indelicado fazê-lo quando o próprio dono ainda não teve a oportunidade, não acha?

Dito isto, Blake se levanta e, gentilmente, retira a mão de Atreu da caixa, entrelançando os dedos de ambos com um sorriso amável. De início, pode parecer arrogância da parte do londrino chamar a armadura de sua quando nem a viu por completo ainda, mas de modo algum esta é a intenção. Acontece que, após Telus ter aparecido diante dele, justo em Delfos, justo onde ele julgava ser o final de sua jornada, parecia-lhe mais que óbvio que seu Deus o havia recompensado com tamanha honra e dever. E, portanto, pretendia perseguir este novo futuro com todas as suas forças. Afinal, ele buscara durante nove anos de sua existência algo que nem sabia que existia de fato. Ser digno de trajar a armadura lhe parecia um tanto fácil.

Blake sorri para o jovem, o roxo em seus olhos mais brilhante do que nunca. Queria possui-lo por completo, mas primeiro era necessário inverter os papeis. Não é de todo divertido só responder, certo?

-Agora, mr. Nightingale, é minha vez de perguntar. O que Apolo é para você?

Ok, aquele tom intimidador finalmente chamara a atenção de Blake. O que significava tudo aquilo, afinal de contas? O que o jovem Atreu era para Apolo para fazer tantas perguntas? O que ele queria ali?

Ele se debruça sobre a caixa, apoiando o queixo numa das mãos, os cativantes olhos roxo-acizentados fixados no rosto do outro. Agora era sua vez de perguntar, inquirir, exigir, atrever-se; sua vez de fugir do assunto com outras perguntas, que, por algum motivo, sempre giravam em torno da armadura e do Delfínio. Sua vez de sorrir aparentemente satisfeito para, segundos depois, despejar outra fala confusa, seguida por ações ainda mais intrigantes. Interpretar o mesmo papel durante todo o tempo já estava ficando chato. Ele também queria se divertir e, de quebra, obter algumas respostas.

Tudo certo, então, caro Atreu. Não quer transar? Prefere conversar sobre divindades, Alvas, carangueijos e afins? Ótimo. Blake entrará no jogo, então.

-Oh, muito bom, mr. Nightingale! E além de tudo isso, Apolo é a Medicina e o Pastoreio. E, olhe, sabe até sobre Telus! Engraçado. Como sabe tudo isso? Porque, para falar de "fardo que a armadura carrega", deve ser bem entendido no assunto! Diga-me, por que está aqui?

Blake nada fez por alguns instantes. Permaneceu imóvel, os olhos vidrados em Atreu, esperando, examinando sua reação. Por que diabos ele ignorara completamente suas perguntas? Haveria algo a esconder, ou o pequeno rouxinol queria apenas brigar? Ou os dois? Poderia ser suicida, também; mas não importava, pois havia outros planos para ele.

Entretanto, o outro nada mais fez; ficou a esperar algum movimento por parte do aspirante, com uma expressão calma. O inglês, rindo, satisfeito por não ter 'lido' nenhum medo, pula por cima da caixa, usando uma das mãos como apoio; cai de pé, então, e se arruma, tirando sua jaqueta e dobrando-a cuidadosamente, pousando-a na urna. Vira-se para Atreu, uma máscara agradável a ocultar-lhe os verdadeiros planos, e começa a correr, pela direita dele, chegando bem perto; desvia-se no último segundo, ficando à esquerda, abaixando-se e desferindo uma rasteira com a perna direita. (caso Atreu desvie, Blake gira e desfere um chute novamente, só que desta vez elevando a longa perna, visando atingir as costas [ou a frente, se por algum acaso ele se vire])

Que a diversão comece!

-Palavras, palavras! - zombou por sua vez, rindo - Se eu não sei demonstrar poder, você não sabe dialogar, Atreu! Tudo o que faz é perguntar, exigir, questionar; mas, quando lhe é dirigida a luz dos holofotes, ignora como se não soubesse do que se trata!

Blake estrala os punhos, o pescoço e se posiciona, pronto para correr novamente. Queria pegar o rouxinol em seus braços, atirá-lo na areia, mostrar-lhe o poder que tanto pedia. Oh, aquele rostinho era tão provocante, tão adoravelmente irritante! O desejo pulsava, intoxicava, queimava... Queimava com força, seguindo uma trilha que começava em seu peito e se distribuía, chegando até as pontas dos dedos, até o topo da cabeça. Era uma força quase palpável, quase visível; embora o inglês não pudesse notar, ela era capaz de ser vista, crescendo à sua volta numa explosão de variados tons de laranja.

-Quem deveria mostrar que pode algo aqui é você! - grita, sentindo-se arder por dentro. Nunca, em toda sua vida, sentira tal coisa. Era... Indescritível. Tudo o que ele sabia com certeza é que essa força o incitava, incentivava-o a lutar por aquilo que desejava.

Experimentoa segundos atônitos, hipnotizados; o combustível dentro de si continuava a queimar, infinito, como se não tivesse fim. E, após muito buscar em seus conhecimentos o nome daquilo, encontra a resposta: cosmo. A energia capaz de mover mundos, de rachar a Terra com um só soco. Então, era isso que os cavaleiros sentiam... ? Ora, se era mesmo o cosmo, ele poderia canalizá-lo, não...?

Concentra-se, focando as mãos e os pés, e logo a força obedece, e ele sente os punhos em brasa; e corre na direção do outro, impulsionado pela força, desferindo uma sequência de chutes rápidos assim que Atreu entra no alcance de suas longas pernas. A cosmoenergia era tão embriagante! Como diabos pudera viver até agora sem ela?!

[só para avisar: apesar de ter pesquisado durante os nove anos que esteve por conta própria, Blake nunca experimentou antes o cosmo; afinal, até o presente momento não sabia que era destinado a ser um cavaleiro de Apolo. o/]

Ah, como queimava!

Era quase como se quisesse sair. Como se aquela energia pulsante que invadia-lhe as veias e inundava-lhe a mente de força, desejo e coragem tivesse vontade própria, e lutasse para abrir caminho em meio aos tecidos de seu corpo. Blake a canalizava como podia, fortalecendo os braços cruzados à frente e levantando os joelhos esporadicamente, defendendo-se do ataques de Atreu. Aprendera, nas ruas de Londres, a lutar, a brigar, a se defender de sequências desconhecidas; mas aquele era um ritmo diferente. Uma dança embalada pelo cosmo, acelerada, apimentada por aquela sensação às suas costas, que desperta, alerta, avisa. A sensação de morte.

Não é que ele sentisse a morte vinda de Atreu. O rouxinol com certeza não queria sua vida. Ainda assim, a sensação se fazia presente em toda e qualquer briga que protagonizava, sempre à espreita, cutucando de leve, lembrando que a vida tem, sim, um fim, e este poderia chegar mais rápido do que se imagina. O inglês acostumara-se a conviver com isso; afinal, boa parte de sua existência resumia-se em lutas, tanto na Inglaterra como no resto do mundo, trabalhando para as máfias, buscando Apolo sem nem mesmo saber o que encontraria. E aquele incômodo sempre, sempre ali. Certo que muitas vezes salvara-lhe a vida, impedindo-o de abrir brechas estúpidas para adversários inteligentes, mas outras tantas vezes só atrapalhara as coisas, fazendo-o levar a sério demais ocasiões não tão importantes.

Agora, pensou ele, você irá me ajudar ou atrapalhar, cara amiguinha? Há quem te confrontar agora!

A cosmoenergia lutava, também, por espaço; e crescia numa medida proporcional à vontade de ver o outro jovem deitado. Ofegante e trêmulo, sim. Não por causa da luta.

Ela se expandia, crescia dentro de seus braços; num impulso, Blake os lançou para frente, descruzando-os, e pôde sentir pela primeira vez a energia - agora visível até para ele, laranja como o céu ao pôr-do-sol - saindo, num "X" fraco mas notável, visando a mão de Atreu.

Mais algumas buscas rápidas em sua memória, e a lembrança lhe vem à frente: era possível controlar o cosmo, tornando-o tangível e capaz de machucar. Claro! Muitos dos ataques, se não todos, dos antigos cavaleiros derivavam disso. Como pudera esquecer? Entretanto, era quase involuntário; dava socos à frente, rápidos, precisos, defendendo-se da "mandíbula", os punhos banhados em luz, e a tal luz não os abandonava. Como se, agora que sua total capacidade fora descoberta, recusasse-se a obedecer. O loiro desiste momentaneamente, então, e volta a se concentrar no fortalecimento, agora imergindo numa explosão de laranja, prevenindo-se de ataques do outro, cuja força equiparava-se à sua. Há quanto tempo não lutava contra um igual?

Com um urro baixo, lança-se de vez para cima, tentando lhe agarrar os pulsos ainda em movimento, com o intuito de puxá-lo para perto e desferir duas joelhadas em seu estômago, potente, altamente carregada de cosmo, para em seguida acertá-lo não tão forte em seu ponto mais fraco. Girá-lo, depois, e cair por cima dele, e deixar-se levar...

[caso não consiga pegar os pulsos após algumas tentativas, sempre atento a possíveis contra-ataques, ele começa a atacar com chutes giratórios, finalizando com uma rasteira e dois passos para trás.]

-E quem é você para me dizer digno de alguma coisa, ó destemido Atreu?

A voz sai irritada, estressada, com uma nota gutural; a expressão demonstra que, enfim, Blake estava no limite de sua paciência sarcástica, ainda que o sorriso irônico permanecesse em seu rosto. O jovem de cabelos castanhos à sua frente não tinha noção do perigo. E talvez nem mesmo percebesse que, agora, todos os músculos do aspirante demonstravam o desejo de atirá-lo na areia e mostrar-lhe a potência que tanto queria ver. A quase bipolaridade do outro o excitava tanto quanto o irritava, um paradoxo inexplicável e ao mesmo tempo simples demais, compreensível demais. Sempre foi assim, em verdade; o inglês sempre se viu no meio de dois sentimentos conflitantes, tão inerentes a si que, desde o incidente nas ruas de Londres nove anos atrás, tal situação já até se tornara comum. Desprezo e desejo, fúria e êxtase - exatamente o que sentia no momento.

E, como se tivesse inteligência própria, a cosmoenergia aproveita-se da confusão temporária, do único milésimo de segundo de baixa guarda de Blake, para lançar-se corpo afora num único movimento, explodindo ainda mais a tremulação laranja à volta do loiro, irrompendo numa velocidade avassaladora, antes julgada impossível por quem nunca presenciou uma luta entre dois cavaleiros, e subitamente tomando a forma do único objeto no mundo capaz de despertar o brilho arroxeado nos olhos dele.

Talvez fosse seu subconsciente controlando o cosmo sem deixar o ser consciente saber; talvez, simplesmente por ter trespassado sua mente a imagem de sua tão querida companheira disparando contra Atreu, a energia tenha concedido seu desejo mais íntimo. Talvez fosse assim que funcionasse. Talvez fosse apenas seu "dom", aquela força que o colocara no caminho da Alva de Telus, impulsionando-o, ajudando-o a provar que era, sim, capaz de honrar Apolo e sua armadura. Mas, quer saber? Não importam as causas. Nunca importaram.

O que realmente interessam são as consequências. E, caro Atreu, prepare-se, pois elas não lhe serão favoráveis.

-Delphic... Gun... ?! - sua boca se moveu quase que involuntariamente, acompanhando as palavras que surgiam, gritantes, em seu coração. Pela primeira vez, o rouxinol pôde ouvir a vacilação distinta entre as muitas notas da fala do inglês.

Mas a hesitação durou poucos instantes. Tão logo a voz fez-se ouvir, as palavras juntas mostraram que tinham um som tão bonito, diferente, exótico; e demostraram tal poder à mera menção que foi impossível resistir. Um novo sorriso formou-se em seus lábios, desta vez sem ironia, sem sarcasmo. Não era mais necessário provocar. Pois, agora, ele sabia que podia mostrar um poder diferente do que viera imaginando até então.

-Delphic Gun...! - a voz sai mais firme desta vez, e seu corpo segue a pronúncia; logo estava em posição de tiro, a mão direita segurando a arma de cosmoenergia, o braço em riste. As palavras invocaram sua melhor amiga, e agora lá estava ela, a pistola, laranja à sua frente. Mirando o coração de Atreu. - Say, mr. Nightingale... Já praticou tiro com armas de fogo? - e os disparos começaram.

BAM! BAM! BAM!
Vários tiros seguidos, à esquerda, à direita, acima, abaixo, e finalmente indo de encontro ao peito do outro. Todos, é claro, impulsionados pelo cosmo... Não. Eles eram cosmo. O mais novo melhor amigo de Blake unido à antiga e ainda melhor amiga. Uma combinação um tanto explosiva, don't you think?

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Delphic Gun
Tipo: ofensiva/arremeso
Alcance: longo
Gasto de cosmo: variável
O cosmo do cavaleiro cresce à sua volta, tomando em seguida a forma de uma arma de fogo - uma pistola - à frente. O cavaleiro, assim, segura-a e a usa como se não fosse feita de pura energia. Os tiros são de energia também, mas, quando entram em contato com superfícies materiais, causam um dano parecido com um esmagamento - por exemplo, se acertar o braço de um inimigo, vai parecer que algo extremamente pesado passou por cima deste. Esse ataque favorece tanto a agilidade quanto a habilidade com armas do cavaleiro de Telus, e pode ser mortal ser acertado por mais de um tiro ao mesmo tempo.