1ª luta: Aulis de Pomba vs. Blake de Telus

Blake sorri para o outro, e tira a camisa enquanto fecha os olhos. Instantes depois, a Alva já se adaptava a seu corpo, os detalhes num lindo tom meio salmão cobrindo as pernas por completo, indo das mãos até o cotovelo, protegendo o tórax e os ombros, a máscara lembrando vagamente um caranguejo sem, contudo, imitar a armadura dourada de Câncer.

O apolíneo posiciona-se, sem aparentar qualquer especialidade além do doutorado em brigas de rua; pernas meio afastadas, punhos cerrados à frente do corpo na altura do peito, e o sempre presente sorriso simpático e sarcástico enfeita-lhe o rosto semicoberto pela máscara. - Tenha a bondade, atheniense Aulis. E boa sorte para você. - "não deixemos que fatores pessoais atrapalhem esta luta, certo?" é o que quase acrescenta, mas interrompe-se no último segundo e volta a sorrir.

Hello, my dear friend, pensa, cumprimentando a amiga que já o visitava pelas costas. Ah, a sensação de morte. Tão importante num torneio, não acha?

the way I feel inside is just so hard to understand
like I've became some kind of demon in the night
you look so tasty I could eat you up alive !
you feed my appetite in ways I can't explain

Blake continua sorrindo, agora sem tirar os olhos de Aulis, evitando até piscar. Era crucial manter o contato visual o máximo que pudesse. Inclina a cabeça para o lado enquanto o outro veste a armadura, chega até a lhe admirar as simples linhas, e enfim retesa os músculos quando o vê correndo, elevando um pouco o cosmo, equiparando-se.

E então, enquanto ele vai se aproximando, o apolíneo começa a leitura definitiva. Seus olhos roxo-acizentados penetram fundo no coração, na alma, vasculhando, procurando, obtendo informações. Ter nascido sob a guarda de Telus, com o destino de trajar a armadura correspondente, lutando assim nas primeiras fileiras do exército do Sol, dava-lhe certos privilégios. Além, é claro, da honra de defender seu deus com a própria vida se necessário, era capaz de absorver e interpretar o medo alheio. Tudo à sua volta era como um livro aberto, cujo único capítulo legível era o que tratava de seus temores mais aterrorizantes, seus traumas mais secretos. Ah, o medo de Aulis? Previsível.

Deixa que a Pomba cubra metade da distância entre eles e estufa o peito, pisca algumas vezes seguidas e queima seu cosmo, expandindo-o até o infinito em sua mente, canalizando-o para o que precisava.

-Now tell me, what's your deepest fear, little birdie? - sussurra, audível, e a explosão laranja à sua volta parte para cima do outro, para que o levante e o aprisione na armadilha mental do golpe de Telus. Nela, o pássaro vivenciaria o que Blake interpretara ser o maior medo presente em seu coração: a dor de seus irmãos. Sim, cruel. Vê-los sendo torturados por sombras indefinidas, ouvir seus gritos ensurdecedores, assistir enquando são desmembrados, pouco a pouco, suas expressões desfiguradas devido ao pânico, ao sofrimento. O inglês força uma considerável quantidade de cosmo na linha que o ligava à mente do finlandês, mantendo o contato visual, certificando-se de que, durante a ilusão, o outro se sentisse impotente, imobilizado, incapaz de ajudar seus amados irmãos.

As experiências na Pousada mostraram, acima de tudo, o quanto aqueles trigêmeos são unidos e se amam. Talvez, fazendo com que ele experimentasse o pavor de ser separado de seus entes tão brutalmente, mesmo que por alguns momentos, pudesse acabar logo com a luta...


---


Deepest Fear
Tipo: ofensiva
Alcance: - (necessário contato visual apenas)
Gasto de cosmo: variável
Telus tem a capacidade de ler o medo alheio; o cavaleiro, através de contato visual, prende o adversário numa ilusão baseada justamente naquilo que lê. Se há algum medo explícito, a ilusão tratará justamente disto; se à sua frente estiver alguém corajoso e centrado que não demonstre facilmente suas emoções - ou simplesmente Telus não tenha tempo nem concentração suficiente para lê-lo apropriadamente -, a armadilha mental será baseada num temor irracional, que todos trazemos junto ao peito: o medo do desconhecido. A quantidade de cosmo usada varia de acordo com a duração da ilusão e com a dificuldade. Ou seja, se é um medo já superado/desconhecido pelo inimigo, será necessário gastar mais para poder amedrontá-lo realmente.

the way I feel inside is just so hard to understand
like I've became some kind of demon in the night
you look so tasty I could eat you up alive !
you feed my appetite in ways I can't explain

Blake sinceramente não sabia como se sentir no momento. Por um lado, seu coração se apertava e contorcia, borboletas a esvoaçar em seu estômago, diante da reação de Aulis; por outro, o mesmo coração pulava e transbordava de um desejo súbito e intenso, que lhe subia à garganta, ardia em seu peito, contraía seus músculos da forma inexplicável e já tão comum ao apolíneo. Não era raro ele querer alguém, mesmo que em situações inusitadas como esta. De fato, já passaram por seu leito pessoas dos mais variados tipos, das mais diversas personalidades, etnias, profissões e estados mentais. Prostitutas, empresários, mafiosos, garçonetes, atrizes, juízes, músicos, médicas e pacientes, enfim, ao redor do mundo, muitos são os que já tiveram o inglês como parceiro eterno por algumas horas. E cada um era especial e único a seu modo. Por que haveria de ser diferente com a Pomba?

Não, é claro que não seria. Os poucos momentos que pudesse ter ao lado daquele Ilmavalta seriam também épicos. Sua pequena face, tão resoluta em nome da Deusa da Sabedoria, tão colérica por conta das cenas vivenciadas em sua mente, brilharia quase tanto quanto o Sol, em êxtase. Blake queria ver isso. Queria proporcionar isso. Mas, para poder tê-lo em seus braços, precisava primeiro mostrar-se digno de tocá-lo. E, pelo que conhecia da honradez dos pássaros finlandeses, seria necessário vencer. E, oh, ele venceria. Com toda a certeza.

Enquanto o outro tentava avançar cambaleando, os olhos roxo-acizentados percorreram toda a extensão do coliseu, parando nas colunas ao centro. Um esboço de plano se formou rápido em sua mente, e mais uma vez a explosão alaranjada se fez presente à sua volta.

-Come, descend from the skies, touched by the flames of Apolo, the Sun, and show this lost bird what light is made of! Come and guide us all through the darkness, stars of the beehive cluster!

Os braços, cruzados à frente do peito em “X”, , embalados pelos sussurros na língua materna, abrem-se num único movimento, e o fluxo de cosmoenergia, antes concentrado na mente, agora extendia-se também para o físico, lançando as mais de 1000 esferas na direção oposta, mirando tanto Aulis quanto as colunas. Com isso, Blake planejava ter com o que brincar caso tudo desse errado, além de testar seu oponente. Até agora, não vira nenhuma demonstração racional de cosmo; estava curioso para conhecer a tão famosa aura branca da Pomba. Em verdade, gostaria de conhecer a Pomba em si, mas primeiro precisaria passar por suas barreiras. Depois, sim, gozaria da vitória. Em vários sentidos.

“Come, my dear little friend, help me achieve one more goal!” disse mentalmente para sua amiga, às suas costas, esperando que ela, também, quisesse ajudar. Afinal, tantas vezes antes a sensação de morte o salvara! Deveria ser até mais fácil agora, onde o objetivo não era obter a vida, e sim o que continha a vida, não é?


-----


Beehive Cluster
Tipo: ofensiva / arremesso
Alcance: longo
Gasto de cosmo: médio
O usuário lança mais de 1000 pequeninas esferas de cosmo representando as estrelas do Presépio - o Sekishiki chinês - que, ao entrarem em contato com alguma superfície, explodem, causando um pequeno dano.

the way I feel inside is just so hard to understand
like I've became some kind of demon in the night
you look so tasty I could eat you up alive !
you feed my appetite in ways I can't explain

Blake cerra os punhos com força, mordendo o lábio até sangrar, ultrapassando os limites de seu autocontrole - que, normalmente, não se mostrava exatamente eficiente - contendo-se para não correr. Para não tomar o pássaro ferido nos braços, tirá-lo daquele mar de poeira e destroços, levá-lo a Delfos e tratá-lo como águia. O desejo ardia forte em seu peito; seu membro já pulsava dolorosamente, pedindo, exigindo o toque da pele finlandesa. Ver Aulis naquele estado deplorável, de joelhos, as asas brancas à sua volta perdendo a majestade à medida que mais e mais plumas se desprendiam, alimentava o apetite doentio do apolíneo de formas inexplicáveis. Os olhos roxo-acizentados fitaram a cena à sua frente por alguns segundos, fixos, estáticos. Blake não conseguia tirá-los do rosto sofrido do adversário. Os urros acalorados dos espectadores eram insurdecedores, e provavelmente teriam levado o inglês à loucura, caso ela já não fosse inerente a seu ser. E, de um modo estranho, ela se fazia mais presente naquela batalha do que nunca.

Então, num ímpeto, sua mente doentia gritou por mais. Mais gemidos de partir o coração; mais caretas de dor, de sofrimento; mais passos cambaleantes em sua direção; mais olhares furiosos, assassinos; mais, mais, mais!

Foram os seus golpes que o deixaram desse jeito, disse uma vozinha em sua cabeça. A vozinha da loucura, concluiu com um sorriso endiabrado. Outra melhor amiga? Ara, mas é claro.

Quantos novos e confiáveis amigos uma armadura pode te proporcionar!

-Descend once more, oh my dearly special friends, and show them again the power of the Sun! Come, light up this unfaithful land with the flames of Apolo, stars of the beehive cluster!

Desta vez, mirem apenas o pássaro! Cortem suas asas e mostrem o verdadeiro poder das estrelas!, pediu às esferas de cosmo, enquanto a explosão alaranjada as lançava em direção ao oponente. É claro que levantariam mais poeira e causariam mais destruição ao redor, mas Blake não se importava. Tudo o que Telus queria era ouvi-lo gritar seu nome. E que se danem as provas de honra, justiça e boa índole!


-----


Beehive Cluster
Tipo: ofensiva / arremesso
Alcance: longo
Gasto de cosmo: médio
O usuário lança mais de 1000 pequeninas esferas de cosmo representando as estrelas do Presépio - o Sekishiki chinês - que, ao entrarem em contato com alguma superfície, explodem, causando um pequeno dano.