Arenas de Treinamento

A pequena arena circular, rodeada por uma espécie de anfiteatro de poucas camadas, é o ponto preferido de treinamento corriqueiro dos Santos. Sempre há alguém lá praticando as novas técnicas, aperfeiçoando-se, ou simplesmente fazendo exercícios para manter a forma física. E, naturalmente, é um ponto comum de encontro entre os guerreiros do Santuário.

"Mais rápido!!!"

A voz é inconfundível. Um aspirante entra na arena, ofegando e suando debaixo de vários sacos de areia, e Petra atrás dele, caminhando sossegadamente com seus passos firmes. "Vamos! Mais rápido, mais rápido! Não vai ser um santo nunca, molenga assim! Suas pernas são feitas de carne ou de gelatina?" ela açoita o menino com palavras, na falta de um chicote de verdade, e ele luta para não se deixar esmagar pelo peso...

Bem que haviam dito que tinha sorte quem não era treinado pessoalmente por ela.

"Você diz, aspirantes feitos de nuvem." diz ela, levantando os sacos todos com um braço só. O aspirante cai de joelhos, ofegante, lutando por ar. "Vá descansar e esticar essas costas fracas! Fique grato por Gêmeos ter salvo sua pele por hoje. Amanhã vai trabalhar dobrado." o menino solta um gemido exasperado e se retira, meio cambaleante.

"O que o traz até aqui?" ela volta-se para ele, deixando os pesos caírem no chão; a terra treme. Totalizam no mínimo uns cinquenta quilos. Para um rapaz de no máximo sessenta. "Veio treinar?"

"Feh." ela cruza os braços, na posição típica, e dá um sorriso de lado, a expressão tornada meio estranha por conta das muitas cicatrizes. "Irmão? Quanta consideração por parte de um dourado. Não, agora não mais. O menino era o último a treinar hoje."

- Que bom. Vim aqui justamente pedir para que me treinasse. – Disse o dourado, passando a mão direita na nuca, sorridente. – Pode? – Perguntou Daros, voltando a mão para a alça da urna.

O geminiano estava um pouco tímido, mas já conhecia Petra, embora que pouco e isso tirou parte de sua timidez.

"Posso, claro. Tem algum motivo especial para vir a mim?" pergunta ela. Afinal, um dourado vir pedir treinamento a alguém que nem sequer é cavaleiro... era algo curioso, no mínimo.

"Ensiná-lo a ser um santo dourado?" Petra ri. "Nunca fui um. Agora que você faz parte da elite de Atena, não me cabe mais dizer o que você tem que fazer ou como deve se portar. Mas, se quiser, direi o que sempre achei que deviam ser."

"Poder implica em responsabilidade. Você recebe a armadura de Atena para proteger a deusa, não para ganhar poderes extraordinários. E, mais importante que tudo, você recebe poder para lutar pelos ideais dela, e para proteger e salvar a humanidade. Nós somos os guardiões da Terra, e os únicos que realmente se importam com os homens. Hades não se importa com os vivos, contanto que morram; Poseidon não se importa com a terra, contanto que o mar esteja a salvo; Odin não liga para ninguém, desde que seu povo esteja bem; Apolo talvez se importe com os humanos, mas não luta por eles; Ártemis, pior ainda, acha que os homens são pragas que deturpam suas amadas florestas. Quem se importa com a humanidade? Nós."

"Você é um dos poucos neste mundo que realmente tem o poder de mudá-lo. Mas os dourados se afogam em seu próprio egoísmo e arrogância, colecionando epítetos como medalhas, e deleitando-se com espelhos e lisonjas! Somente se preocupam se os inimigos vêm bater à sua porta, e tratam os demais santos como lixo: os de bronze e prata, que na realidade desempenham muito melhor a missão sagrada de proteger a Terra. Hierarquia, amor-próprio e formalidades os cegam e os tornam armas de destruição e ameaça na mão de idiotas."

Petra balança a cabeça, enfurecida. "Por isso jurei que jamais seria uma santa zodiacal. Vivo para treinar os novos cavaleiros, para criar a nova geração de defensores, e não para mofar numa casa vazia, esperando que matem todo o Santuário antes de chegar ao zodíaco."

"Atena não morre quando seu corpo morre, embora sua perda seja arrasadora para nós." concorda Petra. "Ela nos dá forças. Mas, se falharmos e ela cair, retornará. Mas uma humanidade destruída, não."

"A sua atitude é boa. Mas veio aqui só para isso?" levanta uma sobrancelha.

"Vim aqui para aperfeiçoar minhas habilidades. Pelo que vi naquele dia você tem capacidade para ser até mesmo uma de nós, dourados. Entendo que não queira, mas acho que pode me ensinar muito mais do que ensinou naquele dia." Esclareceu Daros, sentando em sua urna.

"Hm, sim. A idéia era mais testar se você era minimamente apto a envergar a armadura, na verdade. Com quem treinou antes de chegar aqui?"

"John. Não sei exatamente quem ele é, foi sempre cheio de segredos e enigmas que nunca consegui decifrar. Morreu faz um tempo, mas antes me ensinou a ser um dourado. Me fez ter a velocidade de um, me ensinou a como viajar pelas dimensões, entre outras coisas. Por quê?" Perguntou o dourado.

"Hm, não o conheço." Petra pensa um pouco. "Se o conhecesse, poderia saber seus métodos de treinamento e o que lhe ensinou; cada mestre faz de um jeito. Mas diga, o que o deixa insatisfeito quanto às suas técnicas ou estratégia? Vamos direto ao ponto, já que você obviamente passou pelos pontos básicos."

"Minhas técnicas são muito poderosas e geralmente exigem muito cosmo, gostaria de aprender mais técnicas que exijam menos cosmo e que sejam mais fáceis de serem realizadas. Além de não achar que minha maneira de combate seja boa suficiente para enfrentar um oponente. E também não ter tanta durabilidade em batalhas quanto outros santos, por ter voltado a treinar a pouco tempo antes de me tornar dourado." Explicou Daros, ainda sentado na urna.

"Hmmm. Explosão Galáctica, não? Altamente destrutiva."

"Toda técnica pode ser manipulada. Toda técnica tem sua flexibilidade. Quando aprendi a Supernova Titânica -- embora nunca a tenha usado de fato --, aprendi-a do modo convencional, explodindo para fora. Conhece a fama do golpe, não?" Petra muda o peso de uma perna para a outra. "Com o tempo, porém, desenvolvi minha própria versão, da qual você deve se lembrar. É o mesmo conceito, a mesma essência, mas modelada para um uso diferente."

"Qualquer técnica pode ser mudada com algum esforço. Você deve sofrer do mesmo mal que sofri: um golpe fortíssimo, difícil de conter, e que algumas vezes causará mais mal que bem. Pessoalmente acho essas são as mais difíceis de mudar - por estarem associadas a um vício. É muito mais fácil explodir que controlar."

"Contenção é a minha chave para a vitória. Observar, defender, encontrar brechas, e lançar um único ataque certeiro." muda novamente o peso. "Mas não adianta muito falar. Quer me mostrar como luta?"

- Isso seria um desafio? - Pergunta com aquele tom irônico não ofenciso. Levanta da caixa de pandora, enxendo o peito de ar. - Topo. - Disse o dourado.

"Não, ora. Apenas uma avaliação, coisa profissional." Petra dá um raro sorriso. "Vamos, mostre como luta!" e firma os pés no chão, em sua posição clássica.

"Rapazes, cuidado! O cavalheiro aqui é um dourado." ela avisa em voz alta para os aspirantes, que recuam para as bordas da arena, admirados.

- Ainda chama atenção. – falou olhando para os aspirantes.

Volta à atenção para a mulher. Com o pé direito afasta a urna um pouco para o lado, sem tirar os olhos dos de Petra. – Então que vamos nessa.

Daros salta alto e para trás na velocidade tímica dos dourados. Ainda no ar atira várias rajadas cósmicas douradas contra Petra, só que mais para o chão a frente dela, na intenção de levantar pó entre ela para confundi-la ou atrapalhá-la.

"Claro. Não vai querer arriscar desintegrar um dos meninos acidentalmente, vai?"

Petra esboça uma reação, mas ao perceber que Daros não mirava nela, volta à posição inicial. E fecha os olhos, amplificando sua percepção cósmica.

Daros tinha a intenção de atrapalhar Petra. O pó ergue cobrindo a treinadora e achando que seu plano daria certo o dourado parte em direção dela. Com uma boa velocidade, ao aproximar-se gira 360 graus para dar um chute com o calcanhar na mulher.