Novas Esperanças

Sombras de corais e algas se misturam aos antigos afrescos da cidade quase deserta. É pouco antes do amanhecer, e o sol ainda não se levantou de seu leito no mar, embora o céu esteja tingido de vermelho e dourado antecipando um novo dia.

Um dia que trará bons augúrios para os atlantes.

[tópico-teste de Poseidon. Marinas e aspirantes estão convidados a participar.]

*A arrebentação na praia partia o resto dos corais intactos. Ele não sabia o tempo em que havia ficado no mar; não se lembra de como sobreviveu após levar o tiro na região abdominal e muito menos desconhecia aquele lugar que seu instinto o havia guiado.
Seus pés nus tocam a areia da praia após muito tempo sem terem tido contato com uma superfície plana. Adriano se lança de bruços sobre a areia e pousa o tridente – o culpado por aquele enorme esforço – ao seu lado na areia. A água salgada vinha e ia impossibilitando suas pernas de ficarem secas por mais de 5 segundos.*

- Será que é esse o inferno dos militares?

*Ri com sarcasmo cobrindo os olhos da luz do sol quente. As lembranças vinham em “choques” em sua mente, cenas que ele nunca imaginou ter tido contato alguma vez na vida. -Cavaleiros, Marinas, Athena....- Pensava o comodoro enquanto virava a cabeça para o lado observando o estranho tridente.
Desde o momento em que estivera inconsciente na baía do Recife, esse estranho objeto, um tridente de pontas douradas, o havia guiado e dado forças para nadar milhas e milhas sem perder o fôlego para um destino distante e "desconhecido". *

-Que diabos é você, "amiguinho"?

*Murmura focando o olhar no brilho das lâminas. *

Gritos. Os atlantes, sempre vigilantes -- como não o ser depois de tantas guerras? --, dão o alerta assim que vêem o estrangeiro. Obviamente, pois é bastante diferente do resto dos homens do lugar. Pode ser um inimigo. Pode ser um espião. Pode ser um enviado de outros deuses.

"Quem é você? O que faz aqui?" diz um deles, apontando uma arma afiada na direção do rapaz. Um tridente também. Mas nota o que está na mão de Adriano e seus olhos se arregalam em surpresa. "O... onde conseguiu isso?!"

O grego é carregado, exótico, diferente do continental. E certamente muito diferente do português. Por que então Adriano, mesmo tendo plena consciência de que é uma língua que nunca ouviu na vida, a compreende perfeitamente? O que é esse sentimento nostálgico, distante, que desperta nas profundezas de seu coração?

*Um som. Alguém se aproxima.
Adriano estava exausto e mal fez esforço para se virar, permaneceu deitado escutando os passos se aproximarem. -Será um pescador?Assim espero – Pensa o Deus dos Mares fechando os olhos e aguardando.
O estranho fala em um sotaque desconhecido.... uma língua totalmente diferente das que o comodoro já havia escutado. Será Italiano? Espanhol? Talvez húngaro. *

-Nem ao mesmo eu sei quem sou...

*Comenta o moreno se virando lentamente e se ponto de pé; o tridente em sua mão direita ajudando a manter o equilíbrio do corpo cansado do comodoro. *

-..... fui movido ao impulso a nadar por essas águas: passei por chuva; ondas frias e quentes e mergulhei em naufrágios sempre tendo minha consciência desligada deste mundo. O tridente? Não sei, mas acho que esta arma sabe mais de mim do que eu mesmo posso me conhecer.

Logo a comoção começa a atrair também os civis, apesar dos esforços dos soldados de mantê-los distantes do estranho.

"Não é qualquer um que consegue atravessar a nado o Mediterrâneo, se é mesmo verdade o que diz." responde o guarda, olhando fixamente o tridente, intrigado e curioso. "Isso se não tiver vindo de terras ainda mais distantes. E como, estranho, você fala à nossa maneira, quando passamos tanto tempo isolados dos outros povos da Hélade?"

"Esta é Atlântida." ele gesticula apontando a terra atrás de si. Não fazia mal contar, afinal: mesmo se o estranho fosse um inimigo ou espião, havia guardas o suficiente para subjugá-lo. E, caso tivesse intenções hostis, já saberia a verdade de qualquer modo. "Nós somos os servos de Poseidon; aguardamos por muito tempo que nossa cidade emergisse do fundo das águas, para retornar ao solo sagrado de nosso deus."

Os nomes ressoam no fundo da alma de Adriano como gotas a pingar num grande lago, vibrando como notas de um sino de bronze numa caverna oculta. A pequena pedra que começa uma avalanche, a garoa que começa a inundação.

*Adriano estava sendo fuzilado por perguntas que nem mesmo ele sabia a resposta. A voz do estranho invadia sua mente e causava um leve latejar na têmpora esquerda. *

-Mediterrâneo? Língua diferente? Pensei que fosse apenas sotaque.

*O moreno se ergue da areia e cambaleia por alguns segundos, se amparando com a ajuda do tridente. Uma onda bate em seu tornozelo e afofa ainda mais a areia abaixo de seus pés. -Atlântida....- pensava ele sentindo certa nostalgia.
Tudo parecia vibrar no interior do corpo do comodoro, uma vontade louca de gritar o atormenta e um latejar na cabeça o destrói. Adriano permanece imóvel na areia perdendo a noção do tempo a sua volta, ele sente um calor crescer do seu corpo para fora dilatando todos seus poros; mal sabia ele que esse calor era seu cosmo que começava a se manifestar e evaporava as ondas que se aproximavam de seus pés. *

Os homens o observam, assombrados; de repente tudo lhes faz sentido. O tridente, a presença, a estranha chegada...

"Ó Rei! É mesmo o senhor?" uma mulher corre até Adriano e se prostra a seus pés; a maioria da pequena multidão se ajoelha em respeito, reconhecendo seu deus renascido. "Bendito seja este dia; nosso Senhor retorna a nós!" exclama ela, e o povo ecoa palavras de adoração. "Ó Pai, seus filhos o recebem com alegria de volta à sua casa, ao templo sagrado. Por favor, abençoe-nos novamente com sua presença!"

*Suas têmporas ainda latejavam mas tudo a sua volta começava a fazer sentido. Uma mulher se joga aos pés de Adriano e o comodoro apenas a acompanha com os olhos claros. Ele era Poseidon, o Deus dos mares e governante daquele reino distante. *

-Ainda me sinto confuso com tudo. Existe algum representante nesta vila para poder esclarecer minhas dúvidas e me contar das novidades de meu reino?

*Adriano falava diferente agora, mesmo não tento total certeza de quem era ou o que fazer, ele se sentia bem ali... melhor do que se sentia em sua casa humana. *

"... não." responde um guarda, meio entristecido. "Há algum tempo não temos mais sacerdotes... Kusanagi, o general de Sirene, desapareceu misteriosamente, e desde então não temos mais ninguém. Mas não há muito a se contar do reino... temos sobrevivido com dificuldade, contando apenas com a bênção de mares generosos e fartos."